Um Deus sem deuses viajava vazio pelos ventos cintilantes que
sussurravam um semblante de outrora. Não havia tempo ou pensamento; tudo era
infinito, tudo era intenso e maleável. Nada era dito ou cantado; não havia
palco, não havia estrada. Não havia chão. E então se fez o primeiro gesto
orquestral, a primeira grande e divina sensação, que mais tarde seria repartido
com tudo quanto fosse inventado: a Solidão.

Então, inobstante e distante, se fez o que não se sabia ter
vindo antes ou depois do primeiro sentimento. O Desejo.
Pois o Deus sem deuses, nômade e viajante, vagou solitário
pelo breu profundo de seu próprio Desejo. Já havia criado o bastante para ser
divino, já havia transposto Arte a partir do Nada. Teve Medo. E num espasmo
titânico, em sua loucura arquitetônica...
Criou o mundo.
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