Pulgas na Rede

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Causo: Lápide Azul

Vou contar um causo pra vocês, esse é light.

    Numa cidade - lá em Pedra Branca, sertão central do Ceará - viviam três amigos, Chico Sabiá, João Marreiro e Joaquim Onça. Toda sexta feira pela tarde os três se reuniam no bar do Zéfiro, que fica por trás do cemitério municipal; hoje em dia acho que nem existe mais.

    Certa vez os amigos estavam costumeiramente reunidos tomando "umas" no bar, era dia especial, escutem só. Brasil tinha ganhado copa do mundo, tinham conseguido promoção no trabalho, o comercio ia bem, só motivos pra se comemorar. Chico Sabiá, que sempre gostou muito de contar vantagem, contava lá suas histórias de pescador:
    - Pois foi! E nessa noite que eu açoitei o tal do lobisomem. bicho grande. Mais de noventa dentes, enormes. O monstro tinha uns três metros de altura, devia ter mais de dez arroubas de "pesagem".
    - É mesmo, rapaz? - diziam os amigos à mesa.
    - Pois foi! E olhe vocês que eu só tinha uma bala no cano da espingarda. Preparada. Mas não tive medo não. Mirei bem enquanto o bicho rugia, olhei o lance... Pá!... Meti foi bala nos "peito" do lobisomem.
    - Hahaha, mas eu não acredito nessa, mas nem bêbado! - Disse João Marreiro.
    - É verdade, João! O bicho era feio que nem presta! Parecia com a mulher do Zéfiro...
    Todos riram. Era sempre assim. Até que Joaquim Onça levantou, tomou um gole da cana que estavam bebendo e bateu na mesa:
    - Pois olhe, Chico Onça! Quero lhe propôr um desafio pra ver se você é macho mesmo. Vá no túmulo da filha do Duque, aquela que todo mundo diz ser assombrada, e pregue um daqueles pregos de viga de construção. Hoje, meia noite. Amanhã a gente vai lá e vê se você fez o trabalho direito.
    E lá ia o pobre do Chico Onça tentar provar a hombridade. Chovia torrencialmente, todo mundo apertado dentro da parte coberta do bar, e Chico lá, com um lampião e o prego numa das mãos, o martelo na outra, a maior cara de medo do mundo. Uma capa de chuva "amarelo-cheguei".
    Entrou no cemitério. Silêncio, parecia que nem chovia. Só o vento de lado, assoviando coisas, imitando assombração. Uns vultos aqui outro ali. Uma cotia, ou uma coruja, piando em hora inoportuna só para assustar.
     Mais à frente, ela. Azul, estática como todas as outras lápides. Chico foi lá, pé ante pé, aproximou-se. Relâmpagos e trovões. Parece que quanto mais se aproximava, pior ficava. Seria mesmo assombrada essa lápide? Que horror! Começou a lembrar das histórias das pessoas que desapareceram rondando pelos portões do cemitério, e lá estava ele, dentro, de frente pro crime! Espere! Que barulho era aquele? Melhor cravar logo o tal do prego e sair correndo!
    Chico começou a bater o martelo enquanto olhava pra todos os lados, trêmulo, com medo de ver algum fantasma, assombração ou que diabo quer que se estivesse por ali. O suor frio se misturava com a chuva. O prego... Sim, já estava bem cravado! Finalmente! Porém... Quando foi tentar levantar... Alguém puxou-lhe pela capa com força! Chico ficou tão transtornado que largou martelo, lampião, capa, e correu pra rua, nem passou pelo bar.
    Todos gargalharam do Chico Valente - como ficou conhecido - e contam o causo por lá até hoje. E até hoje o coveiro não entendeu, quando andou pelo cemitério na manhã seguinte, porque raios alguém foi por lá durante a noite pra pregar uma capa de chuva amarela com um prego de construção numa lápide azul...

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