Numa cidade - lá em Pedra Branca, sertão central do Ceará - viviam três amigos, Chico Sabiá, João Marreiro e Joaquim Onça. Toda sexta feira pela tarde os três se reuniam no bar do Zéfiro, que fica por trás do cemitério municipal; hoje em dia acho que nem existe mais.

- Pois foi! E nessa noite que eu açoitei o tal do lobisomem. bicho grande. Mais de noventa dentes, enormes. O monstro tinha uns três metros de altura, devia ter mais de dez arroubas de "pesagem".
- É mesmo, rapaz? - diziam os amigos à mesa.
- Pois foi! E olhe vocês que eu só tinha uma bala no cano da espingarda. Preparada. Mas não tive medo não. Mirei bem enquanto o bicho rugia, olhei o lance... Pá!... Meti foi bala nos "peito" do lobisomem.
- Hahaha, mas eu não acredito nessa, mas nem bêbado! - Disse João Marreiro.
- É verdade, João! O bicho era feio que nem presta! Parecia com a mulher do Zéfiro...
Todos riram. Era sempre assim. Até que Joaquim Onça levantou, tomou um gole da cana que estavam bebendo e bateu na mesa:
- Pois olhe, Chico Onça! Quero lhe propôr um desafio pra ver se você é macho mesmo. Vá no túmulo da filha do Duque, aquela que todo mundo diz ser assombrada, e pregue um daqueles pregos de viga de construção. Hoje, meia noite. Amanhã a gente vai lá e vê se você fez o trabalho direito.

Entrou no cemitério. Silêncio, parecia que nem chovia. Só o vento de lado, assoviando coisas, imitando assombração. Uns vultos aqui outro ali. Uma cotia, ou uma coruja, piando em hora inoportuna só para assustar.
Mais à frente, ela. Azul, estática como todas as outras lápides. Chico foi lá, pé ante pé, aproximou-se. Relâmpagos e trovões. Parece que quanto mais se aproximava, pior ficava. Seria mesmo assombrada essa lápide? Que horror! Começou a lembrar das histórias das pessoas que desapareceram rondando pelos portões do cemitério, e lá estava ele, dentro, de frente pro crime! Espere! Que barulho era aquele? Melhor cravar logo o tal do prego e sair correndo!
Chico começou a bater o martelo enquanto olhava pra todos os lados, trêmulo, com medo de ver algum fantasma, assombração ou que diabo quer que se estivesse por ali. O suor frio se misturava com a chuva. O prego... Sim, já estava bem cravado! Finalmente! Porém... Quando foi tentar levantar... Alguém puxou-lhe pela capa com força! Chico ficou tão transtornado que largou martelo, lampião, capa, e correu pra rua, nem passou pelo bar.
Todos gargalharam do Chico Valente - como ficou conhecido - e contam o causo por lá até hoje. E até hoje o coveiro não entendeu, quando andou pelo cemitério na manhã seguinte, porque raios alguém foi por lá durante a noite pra pregar uma capa de chuva amarela com um prego de construção numa lápide azul...
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